Narrativa

                                    
 
Uma Sanitarista em formação.

“A Saúde Coletiva pode ser considerada como um campo de conhecimento de natureza interdisciplinar cujas disciplinas básicas são a Epidemiologia, o Planejamento/Administração de Saúde e as Ciências Sociais em Saúde” (Paim & Almeida Filho, 2000, p.63). Ou então, como afirma Garcia (apud Paim & Almeida Filha, 2000, p.70) “o objeto da Saúde Coletiva é constituído nos limites do biológico e do social e compreende a investigação dos determinantes de produção social das doenças e da organização dos serviços de saúde e o estudo da historicidade do saber e das práticas sobre os mesmos”.

No dizer de Jairnilson de Souza Pain, o SUS precisa de pessoas graduadas em Saúde Coletiva. Precisa de pessoas com perfil profissional que as qualifiquem como atores estratégicos e que tenham identidades específicas não garantidas por outras graduações disponíveis. Portanto, longe de se sobreporem aos demais integrantes da equipe de saúde, esses novos atores – os graduados em Saúde Coletiva -- vêm se associar de modo orgânico aos trabalhadores em saúde coletiva.

Jamais havia passado na minha cabeça fazer o curso de Saúde Coletiva. Reconheço que sempre tive afinidades e ideais voltados à saúde pública, mas ao mesmo tempo, imaginava que esta seria um alvo muito além de minhas possibilidades pois teria de encarar uma luta significativa contra um SISTEMA pré-existente e com muitos adeptos e além do mais, com muitos interesses em jogo, ou seja uma briga de gente grande. Assim, graduar-me em Saúde Pública era para mim, um ideal bem distante, quase inatingível. Mas pelo visto,o universo tinha outros planos.

E aqui estou.

Entrei no curso meio que de “pára-quedas”, pensando que seria apenas um plus na medicina -- que é outra graduação que planejo retomar em breve.

E não é que agora, sob a influência direta do curso de Saúde Coletiva, estou pensando seriamente em ser médica-sanitarista? Mesmo sabendo que terei de enfrentar a desvalorização, os baixos salários, a perda de status no setor público e a falta de incentivo na graduação, acredito que me encaixo e MUITO nesse perfil, pois embora viva batalhas constantes pelos meus sonhos e pelo que considero correto, sempre tenho olhos abertos e críticos para as injustiças sociais que são praticadas no dia a dia, principalmente na área da saúde, com as pessoas que vivem em vulnerabilidade social.

Uma das minhas grandes inspirações nessa trajetória é Osvaldo Cruz, que foi um grande cientista, médico, epidemiologista, bacteriologista e sanitarista. Um pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da medicina experimental no Brasil. Em 1900 ele fundou no Rio de Janeiro o Instituto Soroterápico Nacional, atualmente Instituto Oswaldo Cruz, respeitado internacionalmente. Seus feitos têm iluminado minhas intenções na área da saúde pública.


Mas o que tenho feito, objetivamente, para me transformar na profissional que almejo ser?
Venho trilhando alguns caminhos. No primeiro semestre em que comecei a cursar Saúde Coletiva, tornei-me bolsista de Iniciação Científica da professora Marilise Mesquita. Iniciei trabalhando num projeto da prevalência de leptospirose canina, num um reassentamento urbano aqui da capital. Depois, ainda no mesmo reassentamento, trabalhei num projeto sobre doenças transmitidas por alimentos (DTAs). Na sequência, juntamente com o restante do grupo de bolsistas, iniciamos a confecção de um material educacional – cartilha – sobre os dois assuntos tratados e pesquisados junto aos moradores reassentados. As cartilhas estão em fase de “impressão” na gráfica da UFRGS. Nesse meio tempo, trabalhei também numa pesquisa sobre o perfil étnico racial das mulheres que acessam o serviço de Reprodução Assistida do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Foi um trabalho interessante e bastante produtivo que resultou em Artigos e Resumos para Congressos. Embora gratificantes os resultados que surgiram dos trabalhos que venho realizando em prol da formação profissional que almejo, há um resultado que para mim tem importância especial. Trata-se da oportunidade -- de ouro -- que tenho de me aproximar das pessoas, conhecê-las melhor, ver um pouco além das aparências e saber melhor de suas necessidades e demandas. Considero essa ‘aproximação’ um fortalecimento básico, digamos estrutural, que aprofunda meu entendimento sobre o mundo da Saúde Coletiva.

Os outros cursos, capacitações, extensões, jornadas, congressos e salões de iniciação científica que venho fazendo no decorrer de minha graduação, tem sido de grande valia para meu crescimento. E faço fé, para que aconteçam ainda muito mais experiências e aprendizados, mas tenho consciência de que minha caminhada está apenas começando. No meio de tantas expectativas, aprendizados e dúvidas que sempre surgem com a apropriação do conhecimento, posso dizer que de uma coisa tenho certeza: ter saúde não tem nada a ver com a gente não adoecer, mas com as condições que cada um de nós tem de enfrentar nossas próprias doenças quando acontecerem. A gente fica doente, é natural, faz parte de nossa humanidade. Mas então, o que fazer? Foco na saúde coletiva. É a Saúde coletiva imbricada na medicina. Ou vice-versa.




Referências:
ELIAS, P.E. Graduação em Saúde Coletiva: notas para reflexões. 2003
PAIN, J.S. Graduação em Saúde Coletiva: subsídios para um debatenecessário. 2009

TEIXEIRA, C.F. Graduação em Saúde Coletiva: antecipando a formação do Sanitarista. 2003

0 comentários:

Postar um comentário

Fique a vontade para deixar seus comentários :)